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País africano tem 1,5 milhão de infectados. Expectativa de vida caiu de 45 para 39 anos

MAPUTO – As rodovias que levam do Zimbábue e de Malavi ao porto de Nacala, na região central de Moçambique, formam o mais importante corredor de cargas e a principal porta de entrada da aids naquele país. Os caminhoneiros dormem nos vilarejos à beira da estrada, muitos trazendo algum dinheiro e o HIV.
A pousada de Agnostino Santos, em Namialo, a 107 quilômetros de Nacala, é uma das últimas paradas antes do porto. As mulheres assistem a novelas brasileiras numa TV embaçada da pousada e se oferecem ao equivalente a R$ 10, o suficiente para a mandioca e o milho dos filhos no dia seguinte.
No Estado de Gaza, no sul do país, os homens saem para trabalhar nas minas de ouro e diamante da vizinha África do Sul. Sem dinheiro, as mulheres trocam o sexo por qualquer quantia. Os maridos voltam com dinheiro bastante para dormir com mulheres em cada parada e levam para a casa o vírus da aids.
Quando descobrem que sua mulher está doente, abandonam a casa e os filhos ou mandam a mulher de volta para os pais. Os homens se recusam a fazer o teste de HIV. Se fizerem, poucos terão acesso a um tratamento. Adoecem e morrem em algum lugar.
Na periferia de Maputo, a Associação para o Desenvolvimento da Família (Amodefa) faz um trabalho de visita domiciliar a centenas de doentes. A quinta-feira era dedicada à região norte da capital, onde vivem quase mil órfãos, dezenas deles morando sozinhos. Camal Fernando Tila perdeu os pais há três anos, quando tinha 13 anos. Desde então, cuida dos sete irmãos – um já morreu de aids.
Irene Naftal Buquê, de 67 anos, e Albertina Joaquim Machaila, de 51, levam o que podem, geralmente analgésico, antibiótico, gaze, luvas e uma ficha preparada com técnicos brasileiros. Cacilda Pedro Mandlate, de 27 anos, foi mandada embora pelo marido, que também levou os dois filhos, depois que descobriu que a mulher estava doente. Cacilda está há seis meses sem poder andar e é cuidada pela mãe.

RETRATO DA EPIDEMIA
Moçambique não é o país mais dizimado pela aids na África, mas é o retrato mais bem acabado da epidemia. Doença, desinformação, miséria e fome se misturam à corrupção que corrói as ajudas internacionais e alimenta uma elite que circula em caminhonetes com cabine dupla e ar-condicionado aos olhos de uma população que não ganha US$ 1 por dia.
O país, com cerca de 20 milhões de habitantes, tem menos de 500 “médicos de hospital”, como são chamados, ante mais de 72 mil curandeiros, os “médicos tradicionais”.
São 14 línguas e mais de 40 dialetos, uma infinidade de crenças e superstições. Boa parte da população só acredita naquilo que vê e, como o vírus HIV é invisível, acham que o mal é sobrenatural. Sendo assim, só o curandeiro pode curar.

 

Extraído

 

 

 

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